Nem Vale, nem Petrobras. Quem caminha para liderar o ranking de maiores altas do Ibovespa em 2023 foi o grupo educacional Yduqs (YDUQ3). As ações da empresa acumulavam alta de quase 130% no ano até 19 de dezembro, figurando no topo da lista entre os quase 90 papéis que fazem parte da principal carteira teórica da bolsa brasileira.
O papel começou o ano com um desempenho modesto, subindo cerca de 1,5% em janeiro. Em fevereiro, sofreu um grande revés e tombou mais de 30%, figurando na lista das 10 ações do Ibovespa que mais caíram naquele mês. Na ocasião, os resultados financeiros ainda não empolgavam os investidores, com a empresa mostrando dificuldade operacional.
Parecia, então, que YDUQ3 passaria os meses seguintes aprofundando a tendência de queda, iniciada em junho de 2021. Para se ter uma ideia, até fevereiro deste ano, a ação da empresa acumulava desvalorização de quase 90% desde o pico do papel em fevereiro de 2020 – portanto, pouco antes do início da pandemia.
Mas depois de passar o mês de março no zero a zero, a ação entrou em trajetória de recuperação em abril, quando subiu 15%. O ponto alto desse movimento foi em maio, quando a ação disparou 73%. O salto acompanhou a divulgação de um aumento de 40% no lucro líquido de uma das maiores holdings de educação do país no primeiro trimestre de 2023, a R$ 263 milhões.
O bom resultado sugeriu que a Yduqs estava entrando em uma nova trajetória de crescimento, ainda mais com a movimentação do governo federal para revisar a questão do ensino à distância (EAD), vertente em que as empresas do setor menos lucram. Além disso, os ajustes de preços indicavam uma concorrência mais racional e saudável.
Tal perspectiva impulsionou ganhos de 40% da ação apenas em junho. Na virada para o segundo semestre, parecia que não ia faltar fôlego para ampliar a escalada, cravando alta de quase 12% em julho. Mas a ausência de novidades na pauta educacional no governo Lula deixou a empresa no meio do caminho.
Altos e baixos
Entre agosto e outubro, a Yduqs acompanhou a piora da renda variável como um todo, amargando três meses seguidos de queda, acumulando perdas de 20% no período. Em uma nova guinada, a empresa foi beneficiada pela melhora generalizada da bolsa nos últimos dois meses de 2023, ficando no azul.
O desempenho em novembro contou com um “empurrãozinho” do JPMorgan. O banco elevou a recomendação em YDUQ3 para sobrepeso (desempenho acima dos pares do segmento), de neutra, na esteira dos resultados do terceiro trimestre da Yduqs. O JPMorgan destacou que a empresa foi o primeiro grande player do setor a retomar a geração de fluxo de caixa.
No dia do anúncio da revisão, os papéis da companhia saltaram 10,73%, o que representa quase toda a valorização daquele mês (+13,31%). Na ocasião, a ação já acumulava valorização de 110% e as boas perspectivas para a empresa no quarto trimestre de 2023 mantiveram o papel em alta na reta final do ano.
Vem mais por aí?
Daí, então, fica a dúvida se a ação vencedora da bolsa neste ano irá seguir entre os destaques de alta em 2024.
Para o analista da Ativa Investimentos, Pedro Serra, as perspectivas para a empresa no ano que vem seguem positivas, assim como para o setor de educação como um todo. “Com melhores expectativas em relação ao poder de compra das classes C, D e E, o ciclo de captação para 2024 deve ser construtivo”, afirmou em relatório.
No caso específico da Yduqs, Serra ressaltou que a empresa é uma das maiores geradoras de caixa do setor e também foi a mais diligente em relação às fusões e aquisições. “Tudo isso colocou a empresa com uma saúde financeira melhor que seus pares”, emendou o analista da Ativa no documento.
Segundo ele, a empresa também tem capacidade de competir em termos de preço com as concorrentes e ganhar fatia de mercado ao longo dos anos. O principal risco, contudo, é uma eventual piora no nível de inadimplência, principalmente nos primeiros meses de mensalidade, e evasão escolar. “Tais fatores já vêm acontecendo em 2023”, pondera.
Para Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, as ações ligadas ao setor de consumo no Brasil são uma boa opção de investimentos em 2024 diante das perspectivas macroeconômicas ao longo do próximo ano. “Posicionar-se no cenário de queda de juros e retomada da atividade pode ser interessante em setores ligados à expansão do crédito e pela relação com a renda, como o de educação”, avalia.
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