Após a alta de 4,69% no ano passado, o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, terminou 2023 com um avanço ainda maior. No acumulado do ano, o avanço foi de 22,28%, aos 134.185 pontos. Foi o melhor desempenho anual desde 2019.

Com uma queda de apenas 0,01% nesta quinta-feira (28), o índice encerra o ano perto de sua máxima histórica, 134.193 pontos atingidos no fechamento do pregão anterior. Nesta reta final do ano, o humor do mercado tem sido beneficiado por expectativas de queda nos juros nos Estados Unidos, entre outros fatores.

Mas esta nova sequência de recordes vêm em um ano caracterizado também por marcos negativos: em agosto, o principal indicador da bolsa registrou sua pior sequência histórica. Foram 13 quedas seguidas, com temores do mercado sobre a possibilidade de o Federal Reserve (Fed) manter os juros nos Estados Unidos mais elevados que o esperado inicialmente, e por um período também mais prolongado do que o previsto.

Mas o pior momento do ano para o Ibovespa havia acontecido em março, quando o índice chegou a perder os 100 mil pontos. No dia 23 daquele mês foi registrada a mínima de fechamento no ano, aos 97.926 pontos.

Vista do Museu da Bolsa do Brasil – MUB3 para o interior da B3 em São Paulo. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Os primeiros meses de 2023 foram de fortes incertezas no cenário interno, com dúvidas sobre a condução da política econômica pelo então novo governo Lula e conflitos entre o novo presidente e sua equipe e o Banco Central.

Assim, “os ganhos foram percebidos apenas por aqueles investidores que possuíram a paciência necessária para aguardar”, disse Marilia Fontes, da Nord Research, em relatório.

O avanço da pauta econômica em Brasília, incluindo o arcabouço fiscal e a reforma tributáriaajudaram a reduzir o receio do mercado, assim como as expectativas de redução de juros nos Estados Unidos. Assim, ainda que o cenário fiscal ainda represente um forte fator de incerteza para o mercado, o Ibovespa engatou sequências de recordes de fechamento nos últimos pregões do ano.

“Durante dez meses, o mercado permaneceu lateralizado, caracterizado por um cenário de descrença, saída de fluxo de capital, narrativas catastróficas e desesperança. Somente nos últimos dois meses do ano é que a bolsa finalmente entregou lucros significativos”

disse Marilia Fontes, da Nord Research

Agora, “o índice continua seu rally de fim de anoimpulsionado por sinais positivos na economia brasileira e perspectivas de juros mais baixos nos EUA”, escreveu Ygor Araujo, analista da Genial Investimentos, em relatório divulgado na manhã desta quinta-feira (28).

O que esperar

Para 2024, a expectativa é de que o Ibovespa continue avançando, especialmente com a consolidação do cenário de juros mais baixos iniciado em 2023, conforme escreveu o analista Fernando Siqueira, da Guide, em relatório.

“Estamos estabelecendo um target de 155 mil pontos para o Ibovespa em 2024. A alta deve vir tanto do crescimento dos lucros quanto do aumento da relação preço/lucro (algo que normalmente ocorre quando os juros estão em queda)”.

Fernando Siqueira, da Guide

Já entre os desafios no radar, o especialista cita que “o primeiro semestre de 2024 também deve ser marcado pelos riscos de desaceleração econômica”. “A intensidade e duração da desaceleração ainda é uma incógnita e é um risco para os investimentos em 2024”, acrescenta.

Piores e melhores do Ibovespa

Conforme já esperado após o desempenho destacadamente negativo ao longo dos últimos meses, a ação de Casas Bahia (BHIA3) cravou a pior queda do Ibovespa em 2023. O tombo foi de 81%.

Em novembro, analistas do BB Investimentos avaliaram como “negativos” os resultados apresentados pela companhia. “Apesar de já contemplarmos em nossas projeções um impacto negativo no curto prazo relacionado ao plano de transformações, que contempla a necessidade de redução de estoque, fechamento de lojas e enxugamento do quadro de pessoal, consideramos que as sequelas do ambiente macro restritivo em conjunto agora com esse processo já mostraram que serão muito mais intensas do que estimado.”

Já a maior alta do ano foi de Yduqs (YDUQ3), também conforme já esperado pelo mercado. A ação disparou 123% em 2023.

Também comentando os resultados da empresa, especialistas do BBI reiteraram a recomendação de compra para o papel em novembro, e citaram “bons resultados operacionais e financeiroscom destaque para a qualidade do portfólio de negócios e a elevada capacidade de alavancagem operacional da companhia”.

Último pregão do ano

Nesta quinta, o mercado repercutiu dados importantes de inflação no Brasil. A prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) acelerou em dezembro, com alta de 0,4%, pressionado pelo aumento das passagens aéreas, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas no acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 subiu 4,72%, abaixo do teto da meta do Banco Central de 4,75% para o IPCA em 2023.

Outra divulgação do dia foi o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), que terminou 2023 com queda de 3,18%, a variação anual mais baixa já registrada pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Em dezembro, o indicador subiu 0,74% no mês, acelerando sobre os 0,59% em novembro.

Brasília (DF), 28/12/2023 - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concede entrevista coletiva à imprensa, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília (DF), 28/12/2023 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concede entrevista coletiva à imprensa, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ainda nesta quinta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddadanunciou que o governo enviará ao Congresso uma medida provisória estabelecendo a reoneração gradual da folha de pagamento dos 17 setores hoje isentos desse pagamento, mantendo uma desoneração parcial sobre valores equivalentes a um salário mínimo.

Haddad também anunciou que será fixada uma limitação anual das compensações tributárias para decisões judiciais determinando créditos acima de R$ 10 milhões, bem como o fim gradual do Perse, programa de benefícios tributários criado durante a pandemia da covid-19 para proteger setores como o de eventos, hotéis e restaurantes.

“Assim como os projetos votados ao longo de dezembro, o conjunto de medidas anunciadas hoje possui impacto significativo sobre o potencial de arrecadação tanto de 2024 quanto para os anos subsequentes”

MATHEUS PIZZANI, ECONOMISTA DA CM CAPITAL

No entanto, “o conjunto das medidas não será responsável por equalizar as contas públicas no próximo ano, conforme demandado pelo arcabouço fiscal, o que não desqualifica em absolutamente nada sua importância para a estrutura das contas públicas do país” num prazo mais longo, completou Pizzani em entrevista à Reuters.

(* com informações da Reuters)

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