O impacto do atual ciclo de diminuição da Selic nos gastos com juros pelas empresas não será totalmente notado nos balanços do 3º trimestre. O alívio deve levar algum tempo para se materializar nos resultados, ficando mais para o próximo ano, avalia André Vasconcelos, diretor-adjunto no Rio de Janeiro do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI).

Na questão específica da despesa financeira – os valores para pagamentos de empréstimos e financiamentos –, o corte pode se materializar de diferentes formas: por uma redução das taxas de empréstimos existentes, em novos financiamentos mais baratos ou pela reestruturação da dívida das companhias.

Todavia, o momento exato e a magnitude desse impacto dependem das circunstâncias específicas da companhia. “O perfil da dívida varia muito da empresa para empresa”, concorda Carlos André Marinho Vieira, analista-chefe do TC.

Vieira acredita que o impacto da Selic menor não será ainda visto de forma generalizada, pois a redução da taxa básica foi de apenas 1 ponto percentual após meses estacionada em 13,75% ao ano. “É uma mudança positiva, mas não tão relevante”, diz.

Em sua avaliação, a mudança será mais nítida quando a trajetória de queda estiver mais consolidada, e a taxa estiver próxima do piso esperado no último boletim Focus, já abaixo dos 10% em final de 2024.

Que setores pagam mais juros?

Levantamento da Economatica mostra os setores do Ibovespa, principal índice da B3, com maior despesa financeira nos balanços do 2º trimestre. Para efeito de comparação, o valor da despesa foi posicionado no ranking por sua porcentagem em relação à receita reportada nos balanços.

Vieira explica que o valor simboliza a dívida captada pela empresa, sobretudo em títulos bancários. “Muitas vezes ele é indexado a nossa taxa básica de juros ou a alguma taxa adicionada à inflação mais uma taxa, ou CDI mais alguma taxa”, explica. É possível encontrar ainda juros subsidiados pelo BNDES ou algum órgão de fomento ou títulos emitidos no exterior.

No topo do ranking aparecem companhias de administração de empresas e empreendimentos, grupo que inclui por exemplo Itaúsa (ITSA4), responsável pela administração do Itaú Unibanco (ITUB4). “Como eles não têm receita, eles vão ficar com despesas financeiras bem elevada na relação”, explica Vieira.

Em seguida, aparece o setor que inclui as locadoras de veículos, que necessitam constantemente de financiamento para compra de veículos mais atualizados. Também estão no grupo empresas de shopping centers como Aliansce Sona (TAMBÉM3)e Multiplano (MULT3), que na avaliação do especialista estão “um pouco mais alavancadas que a média”.

Outras formas de impacto do corte de juros

Os juros a serem pagos pelas empresas não são, porém, a única forma de impacto da Selic nos balanços das empresas.

Vasconcelos lembra que bancos e instituições financeiras podem ser beneficiados por poderem aumentar sua taxa de lucro, por exemplo. O setor “imobiliário e locadora de outros bens” e o de “construção civil” podem ter impulso com financiamentos mais baratos, e até o varejo pode ganhar com o aumento do poder de compra dos consumidores.

Vasconcellos também reforça que outras notícias podem pesar mais nos próximos balanços do que a alta da Selic, como os desdobramentos do conflito entre Israel e o Hamas no Oriente Médio e o aumento da taxa de juros estadunidense.

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